05/09/2010

Poemas da Recordação - Conceição Evaristo





A alegria de pertencer a um tempo da inocência, de desapego a prazeres materiais, a delicadeza de afazeres domésticos em companhia de ricas figuras femininas, de mulheres(muitas!)professorando mistérios em volta da fogueira... É o que espera o leitor que percorre o Poemas da Recordação e outros movimentos, de Conceição Evaristo. Jornada ao sabor da “escrevivência”, síntese pura de seu trabalho, dito pela autora. Destaco trecho de instigação aos muitos movimentos que só o tempo e a consciência um dia permitem:
“...a poesia me visitava e eu nem sabia...”



DA CALMA E DO SILÊNCIO
Conceição Evaristo


Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas


Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.


Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.

2 comentários:

  1. A sensibilidade da mulher é algo para ler e guardar no coração.
    Abraços criativos

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  2. Sergio,
    gosto muito de ler Conceição Evaristo!
    Amei Ponciá Vicêncio. Agora, vou procurar por aqui este livro que vc indicou.
    Bjs.
    Fátima

    ResponderExcluir

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